O IBGE divulgou o primeiro levantamento sobre homossexuais e bissexuais no Brasil.
Há cinco anos, o estudante Gabriel Miranda contou para família que é gay.
“Eu desde muito jovem tive alguns problemas com isso, locais, como por exemplo, a escola. Então eu acho que eu tive essa necessidade de muito cedo já ter que sair do armário”, conta.
“A partir do momento que você acolhe, eu acho que o seu filho começa a se sentir mais seguro para se posicionar, para andar na rua, para entrar numa discussão, para até se defender”, diz a mãe do Gabriel, Luisa Miranda.
Pela primeira vez, o IBGE investigou como os brasileiros declaram a orientação sexual. Pelas estimativas, 2,9 milhões de pessoas se dizem gays, lésbicas ou bissexuais, o que representa 1,8% da população. Entre os mais jovens, esse percentual é maior.
A Pesquisa Nacional de Saúde divulgada nesta quarta-feira (25) se baseia em dados coletados em 2019. E aponta que entre brasileiros de 18 a 29 anos, 4,8% se declaram homossexuais ou bissexuais.
A fatia da população que se identifica como gay, lésbica ou bissexual também é maior conforme o aumento da escolaridade e da renda.
“Talvez porque sejam pessoas que já morem até sozinhos e que não tenham nenhum tipo de dependência financeira por ninguém, se sustentem e não precisam de permissão”, diz a coordenadora da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, Maria Lúcia Vieira.
A responsável pela pesquisa reconhece que pode haver uma subnotificação nesses números, já que 3,6 milhões de pessoas preferiram não responder e 1,7 milhão disseram não saber qual é a sua orientação sexual.
“Em alguns domicílios, às vezes os pais de jovens não deixam a pessoa sozinha para responder o questionário. Então, em algumas situações não foi possível essa privacidade, e a gente entende que pode estar subestimado, sim”, avalia Maria Lúcia.
Cláudio Nascimento é presidente de Grupo Arco-Íris, uma das principais entidades representativas do movimento LGBTI+. Para ele, a pesquisa foi um grande passo, especialmente pela falta de estatísticas sobre o tema.
“Aponta para nós a necessidade, enquanto comunidade LGBTI+, de fazer mais campanhas, com o apoio do IBGE, com o apoio da sociedade como um todo, para que a comunidade também se sinta mais à vontade, se sinta mais confortável de falar da sua sexualidade sem culpa e sem medo”, diz Cláudio.
Na casa do Gabriel, cada conquista é celebrada. A comemoração desta quarta (25) foi por causa da pesquisa do IBGE, que auxilia a produção de políticas públicas em defesa de pessoas gays, lésbicas e bissexuais, como o próprio Gabriel.
“Eu falei: ‘Gabriel, essa conquista é importante para você como gay, como LGBT, mas existem muitos que não têm acesso a nenhum tipo de serviço, que não têm acesso a nenhum tipo de cultura’. Então, quanto mais degraus eles galgarem, quanto mais coisas eles conquistarem, a gente comemora, sim, a gente coloca na rede social, a gente posta. Isso é motivo de comemoração. É difícil não comemorar”, diz a mãe de Gabriel, Luisa Miranda.